quinta-feira, outubro 18, 2012

outono44





Caem sonhos como folhas

Neste outono taciturno.

Vão no vento, vão no tempo

Num voo cego sem rumo

 

Como vagas do passado

Ou memórias do futuro.

Sãos os outonos da vida

São sonhos por onde durmo

 

Um sono para lá do eterno

Aonde estou e não me quero…

Um sono que me trucida

 

Todo o banir na procura

Todo o pejo na loucura…

Tanto o sonho quanto a vida

 

poetik


quinta-feira, agosto 09, 2012

in(SÓ)nia


Insónia (parte I)

Á muito que não escrevo
A realidade, a incapaz e no mesmo peso subjugadora
Tem-me tomado os sonhos e as palavras.
Deixou-me as lágrimas apenas.
Pequenos fragmentos de mar.
Sei que tenho um poema dentro de mim
Preso nessas lágrimas mióticas do Ser.
Á muito que não escrevo isto
Que sinto ao escrever…
Tenho menos ilusões que ontem
E do amanhã espero apenas as horas
Exatas do mesmo acontecer.
Padeço escravo deste ver morrer
As horas e os sonhos.
Não alcanço
Nem este poema de tudo alcançar.
Á muito que não escrevo
Palavras de me achar.
Isto é apenas uma insónia! Que arrebatadora
Me torna em papel e tinta.
Á muito que não escrevo
Poemas onde me sinta.
Á muito que não escrevo
Não sobejou nada!
Nem sonhos, nem palavras
Nem espaço mais
Neste fólio que se me acaba…

                                                              

                                                                Insónia (parte II)

É tarde
Como sempre tarda também o sono…
Tarda o silêncio e a solidão…
Tarda todo aquele vazio imaculado
Onde poisamos a imortalidade do pensamento.
É tarde e tudo tarda…
Mesmo a morte que é certa aborrece
Por não ter hora breve ou tardia.
É tarde
E a escuridão é uma luz mais que cega
E impede o caminho…
O sono não vem, e como ele, não chegam
As palavras certas na hora errada
Nem a hora certa chega com palavras de erro…
Incapaz de melhor masturbo o ego desfalecido e prostrado
Ao abandono do cio cósmico…
E por instantes
O silêncio e a solidão
Fundem num sono capaz e fecundo…
Concebe-se o sonho
Nasce o poema
E volta a ser tarde…

sexta-feira, maio 04, 2012

estrada sem fim


Poderei esquecer-te ò estrada
Caminho ínvio do meu desassossego
 No fim que me traçou teu pó
Como trilho que rasgo a medo?

Poderei sem custo silenciar
As lágrimas na minha prece
A minha mais sórdida lembrança
De sonho que não me acontece?

Poderei um dia sem que prescreva
O meu olhar, percorrer a imensidão da lua
Que de estéril e frígida
Pulsa, uma alma menos negra que essa tua?

Poderei ò estrada perder-me
Em outro caminho qualquer
Como se perde de amores o louco
Nos braços de uma mulher?

E penetrar em novo propósito
Em novo loco fugaz
Encontrando quem sabe, na vida o devaneio
Ou na morte, a imperecível paz?!...
poetik


segunda-feira, abril 23, 2012

caixilhos da vida


De viver nos caixilhos da vida
Emurcheceram os sonhos na tela
Desprezei todas as primaveras
Todas as fragrâncias qu’elas
Me acenaram à janela

E d’ela eu vi ao passar
Bem de fronte desse mar
Todos os rubores do destino
E hoje, hoje eu sinto a chorar
O mais negro do meu olhar
Neste caixilho sem brilho

De viver nesse fado sem memória
Disperso num só pensamento
Troquei a vida pla morte
E lancei-me à sua sorte
Como quem arfa asas ao vento

poetik

domingo, abril 15, 2012

as horas do fim


Não mais estas horas de solidão
Não mais a solidão de tantas horas
Não mais os pensamentos que me toldam a razão
Ou as lágrimas em meu rosto, quase mortas

Não mais a tentação da felicidade
Não mais a felicidade da fantasia
Não mais os sonhos na memória da saudade
Ou a insânia de sonhar só mais um dia

Não mais o sono do desassossego
Não mais o desassossego de acordar
Não mais esse horizonte que de longe não lhe chego
Ou a achacada sina de por breve o tocar

Não mais qualquer aceno ou partida
Não mais qualquer partida ou regresso
Não mais poemas que tropecem enganosos nesta vida
Ou estas horas findas em que tropeço…

POETIK

quinta-feira, abril 12, 2012

as horas


Tenho a morte já ali
A raros passos da vida
Acenando-me como a noite
Acena às horas do dia

Ciente de ser maior
Que toda a luz que resiste
Luz que é a própria sombra
Do que de mais vasto existe

A negra noite eternal
Que dessa rara luz definha
Como a morte vai sorrindo
Às horas que são a vida

POETIK

quarta-feira, abril 11, 2012

obscuridades do sonho



Findou o dia e caiu
Sobre a noite um manto arrufado
Morte que o sonho pariu
Misto de sangue e de fado

Lágrimas vastas imergem
Das quatro paredes ocultas
Que num sufoco se erguem
Pérfidas e obscuras

A medo a alma recolhe
Ao aconchego da fantasia
Na esperança que sonho torne
Finde a noite em novo dia

Mas novo dia será
O imutável baixar do pano
Que agastado cairá
Sobre o mesmo desencanto

POETIK

terça-feira, abril 10, 2012

mãos vazias


Nas minhas mãos estendidas ao vazio
Poisam minhas lágrimas sem sorte
Lágrimas de sangue, com que lavo
O rosto da própria morte

Nas minhas mãos estendidas
Carrego a humilhação de sentir
O que o meu coração demanda
Mas apenas elas ousam pedir

Mãos que tremem, mãos que gemem
Mãos que transpiram um olhar sombrio
Mãos de onde caem meus sonhos
No tenebroso espaço vazio

POETIK

terça-feira, março 20, 2012

fado negro


De negro levo o corpo, levo a alma
Saio de mãos dadas com a vida
Na escuridão há silêncios, há a calma
Das horas em que o sonho me conquista

Passo sempre só naquela rua
Na rua aonde deixo indistintamente meus traços
No chão, há sempre restos da lua
Que a noite vai cedendo dos meus passos

E do negrume do tempo
Ou da ténue luz da lua
Caio das teias do vento
Nas negras pedras da rua

E nesse sonho prostrado
Entre o desejo e a fome
Canta-se em mim novo fado
Se a noite já se consome

E tudo o que resta no fim
Tudo o que resta ficar
É só um sonho de mim
Que jamais ousei sonhar

POETIK

sexta-feira, março 09, 2012

fragmentos de poemas



(…)Não tenho ilusões
Nem sensações nítidas
Do sonho…
Toda a matéria desgasta e desgasta-se
Em dolo…
Rabisco ao acaso se acaso rebusco…
Chego a traçar palavras onde arrisco
Ilusões que não tenho, apenas
Por ser da hora a poesia da ilusão de onde
Venho…

………………………

(…) Troco de roupa
Sem trocar de corpo…
A roupa cheirosa, engomada assenta casta
No rugoso cadáver
Que tresanda a mofo…
(…)
Tomo o café da manhã, o mesmo de todas as manhãs…
Saio, mundo fora…
(…)
Volto tarde. À porta de sempre…
Sento-me e escrevo lágrimas que preciso…
(…)
Troco de roupa, mas não de corpo…
Amanhã será pior…
Deito-me apenas… sonho…
Amanhã, acordarei (?) fatigado
Dos sentidos…

…………………

(…) Sabes, nasci exausto até à perdição
E o que ainda está por nascer em mim
É mais depauperante
Ainda que tudo seja paixão…

Desiludam-se o sonho ou a razão!
Deturpados que vivem em mim…
Sabes, nasci exausto até à perdição
Sereno, só o fim…

………………

Permite-me acordar-te
Sei que sonhas…
Que sonhas horas felizes de outras vidas…
Que aí, serás sempre a criança da tua memória.
Mas quero ser a tua estória
Permite-me acordar-te
Sei que sonhas…
Mas neste instante, quero amar-te…

POETIK

sexta-feira, dezembro 30, 2011

fantasma do tempo



Tenho horas de insónias que são vidas
Inteiras por partilhar
Com almofadas e sonhos
Com desejos lúcidos de acordar


Sou um fantasma do tempo
Brisa que se perdeu do vento
E longe se foi urdir

No regaço de um tormento
A romper o firmamento
Sem sentir

E assim, nas horas que foram vidas
A morte ousou prostrar
A minha alma sem rima
…Os poemas no meu olhar…

POETIK

domingo, outubro 30, 2011

poema de vento


Tentei ser o vento
E a ventura de o ser
Tentei passar sem passar
Tentei passar sem morrer

Morrer como brisa
Ou coisa vã
Sem a eutrofia da noite
Ou a delicadeza da manhã

Quis ser o vento
Numa sinfonia do abstracto
O colidir dos sentidos
Num poema franco e raro

Quis ser, o que sentindo
Apenas fosse sentido
Livre como a alma
De todo o Ser perdido

Quis ser apenas um sonho
Um sonho gravado no tempo
Mas não fui sonho nem coisa
Que fosse sombra de vento

POETIK

terça-feira, outubro 18, 2011

aniversário



“No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
(…)
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
(…)
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...”

15 de Outubro de 1929






FERNANDO PESSOA (Álvaro de Campos) “Aniversário”


.....................




Numa visão breve sobre a vida
A que procurei e a que encontrei
Vivo aquela que quis perdida
Perdida está a que sonhei

Fecho os olhos porque hoje é dia
De soprar um dia mais
Quantos sonhos se apagaram
Por serem sonho demais

É de um Outono meu dia
E a alma que julgo ter
Tão só, tenho de oferenda
Este corpo a morrer

E do rosto que soluça
A lágrima que ninguém vê
Ri o destino que escusa
A vida que mal me crê

É um mar que já se forma
Na turbulência do medo
É um vento em revolta
É um desejo em tormento!

Escondido na escuridão
Abandonado que fui em mim
Estendo a mão e só encontro
Um dia mais do meu fim

E nesta solidão de dias
Memórias de já não vê-las
Sopro da chama de meus olhos
A luz de todas as estrelas

POETIK

 
                                                                                                         






















domingo, outubro 16, 2011

nessun dorma




...não esta noite que chora!
Esquecido que fui, vagueio
Vento no nevoeiro.
Funesta hora!

Vencerei! Se rei for, da fantasia
Se da memória me sobejar vida
E reinar em ti!
Vencerei!
Entre a penumbra e as estrelas
Entre os mares e as veredas
Descortinarei
Teu olhar singelo.
Colher-te-ei entre o belo
E no fim, esquecido que fui
Vencerei!

Ninguém durma!
Não esta noite pura
Onde por amor cairei
Sem nome nem luz da lua
Ó noite, ó noite
Vencerei! Vencerei! Vencerei!!!

POETIK

domingo, outubro 09, 2011

obscuridade



Tão obscura quanto a noite
É, a imensa solidão
Penetra em nós e em nós fica
Como farpa de ilusão

Porque tinge o corpo e a alma
Do mesmo sangue que tinge
As lágrimas e a chuva vasta
Do que é sonho ou do que existe

poetik

domingo, agosto 28, 2011

manto de sombras




Não digas nada
Que lá fora as sombras sabem
Que a noite diz a verdade
E a lua ilumina a saudade
Que se desenha na estrada

Não digas nada
O silêncio é como um manto
Que me protege da razão
Me dá laivos de ilusão
E no fim me salva,

Da tentação de sentir o rigor
De que aos poetas não cabe o amor
Não cabe a sanidade
Não digas nada
Bebe mais um copo
Que mais logo
A sede será a da eternidade

Não digas nada
Repousa o teu corpo
Sobre esta cama vazia
Espera que nasça o dia
Que nos rasga,

Os sonhos e a carne
Com todos os espinhos que nos cabe
Colher da rosa
Não digas nada
Bebe um pouco mais de mim
Que breve o fim
Me chama, lá fora…

POETIK

quinta-feira, agosto 25, 2011




Ouso um poema último
Um derradeiro e raro poema
Uma reflexão vaga
Sem sombra ou dilema

Ouso usar assim o silêncio
Como um templo de delírio
Sem paraíso, sem limbo
Sem o fogo do martírio

Sem teorias de conspiração
Sem sonhos, sem razão
Um ousar apenas

De por palavras vagas
Deixar sem motivo marcas
Nos meus dias de poemas

POETIK

sexta-feira, agosto 19, 2011




Aqui padeço
Porque morro, adormeço
No teu olhar sombrio
Tenho sede, tenho frio
E fome dos lugares a que pertenço

Ouço o vento arrastar o tempo
E a hora que me aponta
Tenho medo, estremeço
Porque morro e adormeço
Na tua sombra

Embalas-me nesse berço de escuridão
Solidão maior que nós
Ouço o vento, a tua voz
Um veneno mais a clamar ilusão

Aqui me entrego
Porque te quero e te nego.
No teu ventre quente
Lançámos a semente
De um destino negro

Vê que caio a teus pés
Entre a bruma e as marés
Cego de te não ver
O mar meu leito último
Porque morrer
É só um passo mais
Entre o horizonte e o cais
De te esquecer

Aqui padeço
Em lágrimas e sangue
Num novo dilema
Tenho medo, estremeço
Porque morro, adormeço
Na tua sombra, neste poema…

POETIK

sábado, agosto 13, 2011


Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

.................


Persegue-me o sentimento
De que sentir não me basta
E que bastava não sentir
Isto que me persegue
Para fugir ao de leve
Desse percurso na estrada

E assim remediar, mesmo que levemente
Esse sentir que é de gente
Essa vindicta cerrada
Talvez em um outro sentimento
Desses que são só vento
Que esquecem e ficam nada

E se tudo é pensamento
E não o sentir que invento
Ou ele que se inventa em mim
Vou perseguir eu o vento
Na estrada que manda o tempo
E encontrar-me no fim


E se lá me achar sentindo
Noutro bastar que ruindo
Me aponte novo tormento
Hei-de quem sabe, partindo
Outro chegar, ouvindo
Achar-lhe o pensamento…

POETIK

domingo, julho 24, 2011




Sei que não é hora de promessas
Que sem entrega não há mais razões para voltar
Eu, sei bem o quanto te amei
Sei bem que em ti encontrei, o meu mundo perdido
E tu, tu levaste já contigo, esse sonho prometido
Para um lugar escuro sem luar
E eu, já esperei de mais, não posso mais ficar
Nesse lugar onde te sonhei

Menos negra que esta noite
Muito menos negra
Que esta desdita
Já sem volta
Sem volta
À vida

Tu foste tudo, mas não te cheguei
Quiseste um outro mundo sem mim
E eu, fiquei um dia mais, a outros iguais
Cada vez mais perto, mais
Perto Do fim

Mais negro que esta noite
Muito mais negro
Que esta desdita
Já sem volta
Mais negro que esta noite
Muito mais negro
Que esta desdita
Já sem volta
À vida


Letra adaptada ao tema “ BACK TO BLACK”  Amy Winehouse
POETIK

terça-feira, maio 24, 2011



Aqui, em modo de pausa vejo que o mundo avança
Percebo no seu olhar a criança
Olhar que já não tenho
Talvez ainda existisse esperança
Não fosse a minha herança
Um fado estranho…

Agora vou…
Vou pausar a pausa
E voltar atrás…
Agora vou…
Demoradamente
Ser somente
O que for capaz…

POETIK

segunda-feira, maio 23, 2011


A vida não é apenas mera injustiça platónica
É veracidade errónea é cobiça
Prós e contras de sentidos ocos
Que aos poucos, é tudo, só não é vida

Não há amor sem dor
Coragem sem pavor
Presença sem ausência
Loucura sem juízo
Há de tudo e de nada
À porta fechada
Do paraíso…

À distância somos apenas nós
Aqueles que à viva voz
Se masturbam na vergonha
Os que deslaçados são, só nós
Alter-egos de peçonha

Não há moral sem carnal
A alma é mero desperdício
Tudo o que vicia é drama
Toda a cama é vício!!!...

A vida é algo entre o real e o falso
Entre o noir e a luz
Um sinuoso pé no cadafalso
Que nos conduz

Somos o destino que somos
Se fechados somos no tempo
Dulcineias e quixotes, moinhos
Que são de vento…

Caiados nos sonhos vagos
Mas negros na conjuntura
Dos dias que são a vida
Somos já a sepultura!

Somos o pó da razão
A tontura do equilíbrio
Somos dos deuses a imagem
O livre arbítrio…

Ò liberdade se fosses
Tão livre como este momento!!!
Mas não há livres no teu seio
Apenas poemas plo meio
A dizerem: desalento!...

E que são poemas?
Dilemas… dilemas…
A vida apenas…

POETIK
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