quinta-feira, agosto 09, 2012

in(SÓ)nia


Insónia (parte I)

Á muito que não escrevo
A realidade, a incapaz e no mesmo peso subjugadora
Tem-me tomado os sonhos e as palavras.
Deixou-me as lágrimas apenas.
Pequenos fragmentos de mar.
Sei que tenho um poema dentro de mim
Preso nessas lágrimas mióticas do Ser.
Á muito que não escrevo isto
Que sinto ao escrever…
Tenho menos ilusões que ontem
E do amanhã espero apenas as horas
Exatas do mesmo acontecer.
Padeço escravo deste ver morrer
As horas e os sonhos.
Não alcanço
Nem este poema de tudo alcançar.
Á muito que não escrevo
Palavras de me achar.
Isto é apenas uma insónia! Que arrebatadora
Me torna em papel e tinta.
Á muito que não escrevo
Poemas onde me sinta.
Á muito que não escrevo
Não sobejou nada!
Nem sonhos, nem palavras
Nem espaço mais
Neste fólio que se me acaba…

                                                              

                                                                Insónia (parte II)

É tarde
Como sempre tarda também o sono…
Tarda o silêncio e a solidão…
Tarda todo aquele vazio imaculado
Onde poisamos a imortalidade do pensamento.
É tarde e tudo tarda…
Mesmo a morte que é certa aborrece
Por não ter hora breve ou tardia.
É tarde
E a escuridão é uma luz mais que cega
E impede o caminho…
O sono não vem, e como ele, não chegam
As palavras certas na hora errada
Nem a hora certa chega com palavras de erro…
Incapaz de melhor masturbo o ego desfalecido e prostrado
Ao abandono do cio cósmico…
E por instantes
O silêncio e a solidão
Fundem num sono capaz e fecundo…
Concebe-se o sonho
Nasce o poema
E volta a ser tarde…

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