segunda-feira, junho 29, 2009

chove saudade




Gotas de chuva e de alma
Poisam silenciosas na vidraça
Trazem do céu a eloquência
Do meu rosto a madrugada

Do lado de fora um tempo
Do lado de dentro a memória
Entre mim e a janela
Derrama-se a minha glória

Escrevo com o corpo do mar
Que aos céus sedentos se elevou
E sobre o papel, a lágrima cai
Tal como o mar se quebrou

De voltar de novo à terra
De voltar a ser o mar
Que por um dia voou
E teve asas de sonhar

Quando chove, chove saudade
De uma nostalgia sem par
Gotas de chuva e de alma
Do meu corpo que é o mar

jorge@ntunes

sexta-feira, junho 26, 2009

sombra humana




Sombra que passa e abraça
O meu corpo desnudado
A minha alma perdida

Que me toca e trespassa
Como grito enlutado
Que me leva pela vida

Sombra minha, corpo meu
Alma que o tempo entardeceu
Num ocaso derradeiro

Onde o sonho se perdeu
Por ser pesadelo, ser breu
Tiro no escuro certeiro

Sombra da minha sombra
Cruz da minha cruz
Espelho do meu corpo
Reflexo da minha luz

jorge@ntunes

quarta-feira, junho 24, 2009

heróis




Por vezes, e só assim
Por ser apenas por vezes
Nasce em glória um herói

Porque por vezes
De serem tantas as vezes
Da glória se constrói

As vezes que o homem sonhou
O sonho que ele mesmo destrói…

jorge@ntunes

um sinal de ti




Aguardo de ti um sinal
Uma luz poisada na janela
Um suspiro da tua alma
Uma porta entreaberta

Sonho que sonhes comigo
Desejo que me desejes
Meus lábios são devaneio
Na espera que tu os beijes

Aguardo de ti um sinal
Um gesto apenas, não mais
Da mesma saudade que sinto
E levo pra onde vais

E este silêncio de ás vezes
De tão frio parecer
É todo ele, uma loucura
Um medo de te perder

De me perder em mim
De perdido só me achar
Entre um suspiro da tua alma
E um sonho que leva o mar

E de tantas vezes não ser eu
Por força de me perder
Sinto que fechas a porta
Quando me sinto morrer

Aguardo um sinal de ti
Por nada mais aguardar
Desta saudade de ti
Saudade de te sonhar…

jorge@ntunes

terça-feira, junho 23, 2009

meus versos




Vem no vento o pensamento
Vem na pena a tentação
Vem o sonho, vem o tempo
Vem o verso, a ilusão

Vem com ela tal saudade
Que nem sei bem descrever
E na forma da palavra
Minha voz a padecer

Porque o tempo já me leva
E eu levo junto o tempo
Que fiz da minha esperança
Que fiz do meu pensamento

Quis fazer da minha vida
Um livro aberto de par em par
Sem palavras, sem desejos
Só da luz do meu olhar

Quis um nome de poeta
Um poema raro e belo
Quis a musa dos meus sonhos
Nas palavras e no vento

Repeti as minhas lágrimas
E algum sorriso perdido
Entre a pena e as páginas
Do que me ficou esquecido

E do que de mim ficou
Ficou, entre mim e a pena
Entre o vento e o pensamento
Entre o poeta e o poema

E se alguém me ler em verso
E se alguém me ler um dia
Entre linhas, entre nós
Entre espaços, entre a vida

Terei nome de poeta?
De um poema raro e belo?
Pouco importa, se só quis
Deixar meus sonhos num verso…

jorge@ntunes

segunda-feira, junho 22, 2009

sonho de um sono




Cai, no mais profundo sono
E não voltei
Cai na nostalgia do meu sonho
E acordei

Se a luz é vida
A sombra é sorte
O dia é alma
A noite é morte

Sonhei teu nome
Amei teu corpo
E era noite
E era pouco

O sol brilhava
Na face tua
Na minha face
Brilhava a lua

E ao redor
Tudo era noite
Tudo era morte
Se a luz é vida
E a sombra sorte

Por ti pequei
Por ti chorei
E nem sabia
Que o tempo é lei
Que o tempo é rei
Da minha vida

Tudo era noite, tudo era luz
Tudo em mim era profundo
Tu eras luz
Luz do meu mundo

Mas tristemente eu acordei
E era noite todo o meu sonho
Na nostalgia de mais um dia
Só mais um dia, seres o meu sono…

jorge@ntunes

sábado, junho 20, 2009

fado saudade




Se o meu amor por ti fosse cantado
Teria a voz de um fado
Uma saudade da alma

Se o meu amor por ti fosse cantado
Seria só por pecado
Amar-te. Não amar mais nada

Vem do mar essa canção
Por toda ela ser ilusão
Por toda ela ser pecado

E não há maior ilusão
Que um mar de tentação
Ser a lágrima de um fado

Não tenho nem mar nem fado
Só o meu amor cantado
Num verso já sem idade

Fosse o mar todo o meu fardo
Fosses tu todo o meu fado
Seria eu só saudade

E que saudade seria
Se não te amasse só mais um dia
Um dia só que não chorasse

Esse amor que me fugia
Por esse mar que te sabia
Um fado que te cantasse

Se o meu amor não fosse cantado
Num sonho encantado
Como manda a eternidade

Então não seria fado
Nem mar, nem pecado
Não seria nem saudade…

jorge@ntunes

sexta-feira, junho 19, 2009

negro profundo




Sempre vi no mar, o mar
Nada mais senão o mar
E ele é tudo o que sou

E o que sou é como o mar
Nada mais senão o mar
Azul que o céu inventou

É negro o mar!!!!
Profundamente profundo
É negro o mar!!!
Alma do mundo!!!

Até o céu é negro
Como o mar
E também ele
Profundamente profundo

Tudo é uma ilusão
À qual sorrimos de só vê-la

Mas o mar é negro
O céu é negro
A vida, de um negro
Profundamente profundo

Real, apenas aquela estrela!...

jorge@ntunes

quarta-feira, junho 17, 2009

o longo caminho do longe




O longo caminho do longe
Estrada desatenta e sombria
Para quem longo o caminho vai
Para quem longe o caminho fica

Atalhos hão, tentadores
Cantos pragmáticos de ninfas
E o longe fica tão perto
De ser mais longe do que o sintas

O longo caminho do longe
Encurtado pela vida
Passa breve na retina
Da estrada desatenta e sombria

São apenas moinhos!!!
O vento os fustiga!!!
Pequeno o destino
Que o sonho transpira

O longo caminho do longe
A teus pés, e tu nas nuvens que passam
Ao longe do teu caminho
No longo abismo que cavam

E se uma mão se estender
Por não seres louco sozinho
O longo caminho do longe
Pode nem ser o caminho…

jorge@ntunes

terça-feira, junho 16, 2009

verbo saudade




Do meu imaginário
Ficou uma palavra escrita
Na alma que manda o corpo
No sonho que manda a vida

E dessa palavra eu fiz
Todas as palavras que sei
E das palavras fiz os versos
Do mundo que inventei

E lá, nesse mundo só meu
Pego o mundo e vou embora
Levo comigo a palavra
Das palavras desta hora

E tudo são palavras que esvoaçam
Tudo são poemas que traçam
O meu sentir, a minha verdade

Roubei essa palavra, a mais no dicionário
E dela fiz todas as palavras que sei
Sinónimos que são, desse verbo
SAUDADE

jorge@ntunes

chorei




Sei
De coisas que não sei
E choro
Por saber que já chorei

Não sei
Se o mar me escuta
Ou se o mar
Sou eu esperando
Não sei
Se sou o vento
Ou a ave que vai passando

Sobre mim
Sobre o que sei
E eu não sei
Sei apenas que chorei

Talvez por ter
Alma e saber
De não saber
Tudo o que sei…

E se amanhã
Eu acordar
E não for ave
E não for mar

Então eu saberei
Que nada sei
E vou chorar

De coisas que não sei
Mas que chorei de sonhar…

jorge@ntunes

domingo, junho 14, 2009

por ai esquecido




Acho por vezes entre as palavras
Por ai soltas, espalhadas
Versos que julgo ter escrito
E sem saber bem porquê
Julgo pensar que alguém me lê
Por entre as palavras, esquecido

jorge@ntunes

sexta-feira, junho 12, 2009

há dias que o fado chora




Há dias que o fado chora
Por ser fado, por ser hora
De ser fado e de chorar

Há dias que o fado mora
Triste e só, à nossa porta
E só nos pede pra entrar


Fado meu, triste meu fado
Jaz no meu corpo cansado
Cansado de não ter paz

Chora triste, chora calado
Por ser triste, por ser fado
E por te querer a onde vás

E se algum dia tocar
Uma guitarra ao luar
Um fado que seja triste

Ouve bem, e vem olhar
A minha voz a cantar
Pois eu sou fado que existe


Há dias que o fado chora
Por ser fado, por ser hora
De ser fado e de chorar

Há dias que o fado mora
Na minha alma de agora
Presa ao fado, e ao teu olhar...

jorge@ntunes

quinta-feira, junho 11, 2009

será verdade?




Será verdade
Que o que dói
É só saudade

E tudo mais é só a vida

Será saudade
Que dói
De verdade

E o tempo é uma partida

Que nos amarga os sentidos
De tantos sonhos perdidos
De tantos amores por amar

Será verdade
Será saudade
Será a vida

A lágrima que salga o mar

Eu já não sei
Se é que alguém sabe
Se o que dói
Dói de verdade

Amar assim
Será o fim
Será só tempo

Será só vida
Que vai no vento

Ao nosso encontro
De encontro a nós

Será saudade
Será vontade
De qualquer rio
Que busca a foz

Será verdade
Que o que dói
É só saudade

E o amor
É ilusão
É a desdita

E o que nos dói
É só a vida…

jorge@ntunes

terça-feira, junho 09, 2009

cortina




Corri a cortina
E não tinha janela
Escondi-me, não vi
O quanto era bela

A noite lá fora
A lua despida
Com laivos de sonho
Poema com vida

Abri a cortina
E perdi-me dela
Eu era a lua, eu era o poema
Eu era a janela…

jorge@ntunes

o peso da vida




Se alma tivesse
O peso que tem a vida
Nem um só homem
Se erguia

Seu corpo seria pedra
Agarrada à fundação
Teria o peso da terra
O pó da nossa ilusão

Se a alma é leve
Que me leve
Que me esconda
Quiçá na lua

Que o corpo é pedra breve
E a vida que se encarregue
De pesar na alma sua…

jorge@ntunes

domingo, junho 07, 2009

asas




Nunca me tragas do vento
A saudade de voar
Que ainda sinto no corpo
As asas de não te achar
Como vento que me chegas
Corpo com que me tentas
Em novas asas que invento…

jorge@ntunes

mar português de ser só mar...




Vêem todos a remar
Contra o medo, contra o mar
Vem de longe a caravela
Já sem mastro, já sem vela
Só à força de voltar

Range a nau e o mar range
Só o homem o teme e tange
Por ser homem e não ser mar
Por querer sempre voltar
A outros braços a que se lance

E que bom porto os acolha
Porque o homem sempre sonha
Que em terra será amado
Já que o mar o trás talhado
De uma saudade medonha

O mar é terra de heróis vencidos
De outros lugares esquecidos
Entre a bruma da memória
De terras de outra história
Mas só à sua terra rendidos…

jorge@ntunes

sábado, junho 06, 2009

o outro lado do tempo




Virá o tempo dizer-me
Dizer-me que não há tempo
Virá quem sabe uma hora
Que eu ande perdido no vento

Talvez ande de namoro
Com a lua ou uma estrela
Talvez eu ande, amando
Cada coisa, de só vê-la

Mas o tempo não tem tempo
De parar a lucidez
Nem as rugas, nem as curvas
Deste corpo, penoso de languidez

Mas eu andarei nas nuvens
Perdido por entre sonos
Poemas que são o vento
O vento que é meus sonhos

E o tempo sempre a chamar
A enjeitar meu novo leito
Olho nos olhos o tempo
Mas, só o sinto em meu peito

Eu vivo e viverei
Leve o tempo o que me levar
Enquanto eu andar no vento
Viverei em algum olhar…

jorge@ntunes

sexta-feira, junho 05, 2009

a mínima luz




A mínima luz é estrela que desponta
Na vertigem de lhe tocar
Não luz, não estrela
Apenas universo de lhe chegar

O meu rosto implora face
Linhas de pensamento
A mínima condição de ter
As formas que tem o vento

A minha existência cruel
Limitada pelo gesto
De um corpo físico
Objecto

Mata-me o sonho
Mata-me até a morte
A mínima luz
É que me é noite…

Sete palmos de terra
Escasso tecto, escasso leito
Mínimo, insípido, inglório
Deste sentir, por defeito

A mínima coisa me pesa
E se eu pesasse, teria
O peso daquela estrela
A mínima luz da vida

jorge@ntunes

quarta-feira, junho 03, 2009

queda




Cai a noite no teu quarto
Cai o tempo no teu leito
Cai a lágrima no olhar
Cai o medo no teu peito

Cai o céu de ver chorar
A dor tua, que vem no vento
Cai em ti, e cai a tempo
De te poder abraçar

Cai em ti a nostalgia
Cai a hora, cai o dia
Cai o abismo, cai a lua

Num poema que te sabia
Que te escutava e lia
Em cada palavra tua

Cai a noite no teu sonho
Quando cai em ti o sono
Desse abraço que pediste

Dorme agora sem desgosto
Enquanto te tomo o gosto
Dessa queda que traíste

jorge@ntunes

terça-feira, junho 02, 2009

o mar que eu sou




Se o mar pedisse baixinho
Um toque teu, um carinho
Uma maré de paixão

Se ele te pedisse um caminho
Um rio que fosse sozinho
Nas margens da tentação

Se o mar fosse um olhar
Uma lágrima a sangrar
Na espuma que beija a areia

E se ele pedisse a sonhar
Ser em ti um novo mar
E tu, seu canto de sereia…

Olha bem, que mar o meu
Tempestade de ser teu
De ser apenas o mar

De baixinho te pedir
A calma de te sentir
E docemente te amar...

jorge@ntunes
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