domingo, março 12, 2006


Há dias, por tédio de existir, morri.
Sai pela janela a passos largos em direcção contrária a todas as direcções apontadas por todas as placas em todas as ruas existentes. A pequenos espaços parava para contemplar uma flor, um astro, sentir o vento no rosto, enfim, contemplar todas essas existências invisíveis aos mortais.
Não sei quanto tempo andei e quanto caminho percorri, visto neste plano de existência não existir tempo nem outras formas de medição. O que me levou também a não saber se chegava ou se partia de alguma coisa ou lugar. E tudo o que via e aprendia e sentia era novo. Tão novo que tive de esquecer o que já vira o que aprendera e sentira antes. E só assim como que tendo nascido vazio pude entender com lógica o que me foi sendo dado a conhecer. Fui crescendo, sem formas delineadas ou possíveis. Foi um crescimento de fora para dentro, até ao volume da partícula, e depois, infinitamente mais pequeno ainda.
Se o nada por si só é alguma coisa então eu nem o nada era já. Compacto que estava até à exaustão, tornei-me lúcido, completo. E nesse instante matei a morte e renasci só pelo prazer de poder voltar a não existir.

jorge@ntunes

3 comentários:

Anónimo disse...

Belo quadro e um texto muito bem escrito.Porém, está explícito nas tuas palavras a amargura e a tristeza que tenta te rondar.Não desanime...todos nós temos estes dias amargurados, dando-nos a impressão que o mundo acabou...ainda bem, que tudo passa.Temos que confiar e acreditar em dias melhores e mais felizes.Mais uma vez quero deixar ,aqui registrado o quanto te admiro...Adoro!!! tudo que vem de ti.Deixo-te um forte abraço e muita Paz.

Beijinhos

Geminiana

Ana P. disse...

Beijo

Maria Carvalho disse...

Um texto lindíssimo, Jorge. Com o cunho da tua Poesia. Beijos.

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