terça-feira, janeiro 13, 2009

ruína




Troco de roupa
Sem trocar de corpo
A roupa, cheirosa, engomada
Sem rugas. Como as da minha pele
Corpo que fede a mofo

Mudo a disposição das coisas dentro do meu espaço
Sem mudar uma vírgula
Aos sonhos que traço

Tomo o café de todas as manhãs
Praguejo sobre a condição
De todo o mesmo dia que se avizinha
Mas à mesma hora descendente
Fecho atrás de mim
A mesma porta de sempre

Passo pelos mesmos rostos e lugares
Os mesmos caminhos
Vou já cansado
Em todos os sentidos…

Conheço cada um dos instantes seguintes
Cada uma das piadas e desconexos do dia
E finjo sorrir
Na repetição
Deste existir

Entro ao serviço
Visto a farda
Do meu fardo
Mecanicamente

Estou pronto para um novo velho dia
Mortalmente, estou farto!

Só o meu corpo muda
Tudo mais se repete
A noite chega sempre com a mesma
Frescura

Eu. Mais mofo, mais ruga de pele…

Volto a casa, à porta de sempre
Visto nova roupa
Sento-me e escrevo
O que a minha alma sente

Não troco o corpo
Nem as rugas…
Amanhã será pior…
O mesmo armário, o mesmo mofo…

Deito-me… Apenas sonho…

jorge@ntunes

2 comentários:

Paula Raposo disse...

E apesar de tudo isso, ainda podemos sonhar!! Beijinhos.

Anónimo disse...

É como eu me sinto neste momento...

Beijos

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