sexta-feira, maio 02, 2008

consentimento




Consenti o acordar
Por acordar
Afinal no sono
Já se apagara o sonho

E nesse vazio
Era-me indiferente
Ficar

Precipitei-me
Então para o acordar
Inacabado
Do dormir, sem o estar

A cama que me sustinha
Mais eu dela, do que ela minha
Rangia isenta de comoção

Vi à minha volta um quarto
A limitar-me o espaço
E a tentação

Ousei mexer-me
Alem do olhar
Cocei partes exteriores de mim
À parte de me coçar

De me coçar por dentro
Da comichão que me percorria
O pensamento

Meio dormente
Meio ausente
Meio aflito na calma

Ou não fosse assim
Cada inicio de um fim
Que toque o corpo e a alma

Sentei-me
Naquela posição do antes ou depois, de
Na perspectiva do, se

Que de certezas não sei
Há nas certezas uma sintonia
De um reino sem roque nem rei

Lá fora toa
O movimento da vida
Os sons amiudados do dia

Tão mais simples que os da noite

Tudo sob o jugo de uma única estrela. Rainha.

Em contraste com a noite
De uma maré de estrelas, só minha

Ouvia
Os passos de quem vinha
De quem ia

Mesmo sem estarem

Porque há nas coisas uma rotina
Que mesmo longe do ouvido ou da retina

Se repetem

Levanto-me
Iço-me na queda da vertigem
Resumido ao acto virgem
Do levantar

Já de pé e cal
Na ilusão vertical
Assumo
Que afinal
Ainda durmo
No consentimento
De me sonhar

jorge@ntunes

1 comentário:

Anónimo disse...

Encantam-me tuas palavras.Vc é lindo demais!Belíssimo Poema!

Beijinhos!

ADORO-TE:)

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