terça-feira, outubro 25, 2005

depois do poema (II)



Quantas vezes te perguntaste,
- Porque estou aqui?!
Quantas vezes sentiste esse vazio
que sentes tão imenso como o universo,
tão escuro como a mais escura das noites
em que o teu olhar se perde
pla janela da solidão do teu corpo,
em lágrimas tantas vezes repetidas
que acabam na tua boca sedenta
da doçura que não encontras nessas lágrimas?
Quantas vezes juraste não sofrer de novo
as mesmas dores
e acabaste por as amar ainda mais
depois de as perderes?
Quantas vezes mudaste o lugar dos teus sonhos
e acabaste a pisar o mesmo chão,
a sentir os mesmos passos,
a respirar o mesmo tempo,
a encontrar o mesmo destino?
Quantas vezes os teus braços,
A cobrir o teu corpo, foram a única âncora,
o único sentir, o único amor?
Quantas vezes descortinaste
no silêncio o teu silêncio,
incapaz de calar mais
o que mais não pode ser calado,
mas que grito algum fará ouvir?
Quantas vezes morreste na mesma morte
que só já deseja morrer de ti?
Quantas vezes um único momento da vida
foi toda a tua vida vivida a correr,
absorvida até ao nada
porque o nada já te procurava, incansável,
desvairado por te ter?
Quantos serão os rios que não findam no mesmo mar,
por mais mares que se inventem,
quantas estrelas poderão não brilhar
por mais céus que se pintem de azul,
quantas palavras se poderão calar
por mais censuras que o mundo nos dite?
Mas tu sabes, tu sabes
que somos escolhidos ao acaso,
logo, somos um acaso de nós próprios,
somos o vento, a memória dos lugares que vão ficando,
e que vamos deixando em outros lugares, que levamos.
E quando não pudermos voar mais,
quando o nosso tempo findar
seremos coisas inimagináveis
tão desavindas do princípio.
Mas tu sabes... seremos sempre o vento.
Gostava poder dizer-te que tudo vai acabar bem,
que depois seremos felizes,
numa eternidade algures à nossa espera
para nos abrir as portas ao paraíso
que a vida nos negou.
Gostava de poder dizer-te
que finalmente poderei amar-te
sem medo ou pudor, sem hora marcada, sem fim...
Mas quantas mais vezes, quantas vezes mais,
seremos quem somos?

jorge@ntunes

III PREMIO LITERÁRIO DE POESIA BRITO BROCA 2003 ( BRASIL)
1º LUGAR

4 comentários:

Anónimo disse...

"Gostava de poder dizer-te
que finalmente poderei amar-te
sem medo ou pudor, sem hora marcada, sem fim..."

Eu cá tb gostava que isso se realizasse!

Amei o texto, acho que o prémio foi pequeno pois o 1º lugar seria concerteza o mais adequado ;) mas acho que não escreves em busca de prémios!

Beijinho muito grande!

Que Bem Cheira A Maresia disse...

Merecidissímo 1ª prémio!

P.S. A música ja toca :) e fiz algumas alterações, espero que aprovadas.

Beijokas da Mar Revolto

Maria Carvalho disse...

Lindo, Jorge, maravilhoso! Adorei. Repito-me sempre que venho ao teu espaço, porque de facto, pouco acrescento de novo, só gosto muito, muito do que tu escreves, e os prémios, não interessam! Está belíssimo. Muitos beijos para ti.

Anónimo disse...

Um belo Poema! Orgulhosamente tenho este Poema guardado em meus arquivos...Vc me enviou por e-mail lembra? Um presente que amo de paixão,como outros que enviaste.
Adoro-te... Beijinhos.
Geminiana.

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