

Viajo de tal forma incógnito
Que nem mesmo eu sei quem sou
Sabe-me bem não saber
Tampouco para onde vou
Deixei todos os meus sentidos
Numa das gavetas lá de casa
Saí levando apenas nos bolsos
As mãos em busca de nada
O corpo embalado pelo movimento
Do comboio, faz-me oscilar
Nesta viagem desajustada
Do tempo em que a quis apresar
No entanto lá fora tudo corre
Como se tudo me fugisse
Como se estado próximo
O próximo ao tempo partisse
E a cada vazio a que chegue
Não caiba ser meu destino
Nem possa criar no nada
O nada que trago comigo
O comboio Pará! E tudo Pará!
Só eu me movo ao acaso
De dentro da máquina
Para fora do pecado
À minha volta tudo se revela
Tudo se desnuda e atropela
Tudo se conjuga
Espreito através de uma janela
Apenas por estar aberta
Sob a claridade da lua
Estranhamente reconheço a sala
Mesmo que na escuridão mal a perceba
Saltam-me aos sentidos os sentidos
Incógnitos, guardados, em uma qualquer gaveta…
POETIK
1 comentário:
a analogia com a gaveta foi realmente bela, tocante e profunda.
abraços.
http://terza-rima.blogspot.com/
Enviar um comentário