quarta-feira, setembro 24, 2008

cruz




Quem me pode entender?
Se não me entendo
Quem me pode saber, sabendo
Que nada mais vai saber?

Hoje estou aqui. Só.
Apenas porque estou em mim
A escrever, porque apenas escrevo
Quando sinto a alma, quando sinto o medo
De me sentir assim

Que importa isso a quem me lê
Que importa se ninguém vê
Que importa se ninguém sente

Este que assim se crê
Um nada de nada, de-um-não-sei-bem-o-quê
Que existe quase gente

Que me reserva a história?
Quem me criou
Este, que me sentindo, não sou
A cruz como glória

Sou só o pecado
De um corpo mal amado
De uma alma mal parida

Sou, só o lado errado
Infortúnio do passado
Futuro que não me conquista

Estou só aqui
Apenas num sonho mais
Achando que acho o que perdi
Nunca, achando demais

Quem…
Quem me pode entender?
Se não me sinto morrer

Quem…
Quem vai saber?
Se nunca me vi, viver

Sinto-me adormecido
Ás vezes perdido
Ás vezes achado

Lembro-me, na cruz
Sem dor e sem luz
Só. Crucificado

Pregos que preguei
Na carne que sou
Na cruz que neguei
Na alma em que vou

Quem pode entender
Este querer sofrer
Só para sentir

Que o sonho primeiro
De derradeiro
É o último a rir

jorge@ntunes

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